O Brasil vê a “reaproximação política” com o continente africano como uma das suas prioridades diplomáticas com a consciência de que “o mundo precisa de África para dar certo”, disse à Lusa o director do departamento de África do Itamaraty. Antonio Augusto Martins Cessar diz existir uma “aproximação muito nítida, declarada”, a África do Governo chefiado por Lula da Silva.
Ou seja, “é uma prioridade” de acordo com o diplomata brasileiro quando fez o lançamento do Fórum Brasil-África que reúne segunda e terça-feira lideranças brasileiras e africanas sobre questões contemporâneas de interesse global e que este ano terá como tónica o Investimento em Infra-estrutura para o desenvolvimento sustentável no Brasil e em África, através do incentivo a parcerias e novas oportunidades de negócios.
A reaproximação política, segundo o diplomata brasileiro, está a ser demonstrada por Lula da Silva através das várias viagens que tem feito ao continente africano, assim como o seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Em 2023, no seu primeiro ano deste mandato, Lula visitou Angola, esteve na África do Sul para a Cimeira de chefes de Estado do grupo BRICS, visitou Cabo Verde e participou ainda em São Tomé e Príncipe na Cimeira de chefes de Estado da Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Este ano, discursou na abertura da 37.ª Cimeira da União Africana, em Fevereiro, no qual garantiu que a sua presença reafirma o vínculo do Brasil “com este continente irmão”, e esteve ainda no Egipto.
“Com os seus 1,5 mil milhões de habitantes, e seu imenso e rico território, a África tem enormes possibilidades para o futuro. O Brasil quer crescer junto com a África, mas sem ditar caminhos a ninguém”, disse durante o seu discurso.
Esta reaproximação, segundo Antonio Augusto Martins Cessar, “deriva da composição da própria população brasileira e da história, um laço histórico, social e demográfico muito importante”.
“Existe uma percepção comum de que a África é em grande medida um continente que vai ter participação em todos os temas globais”, considerou o responsável brasileiro, frisando que África é um continente dinâmico, jovem e “importantíssimo para as agendas atuais de transição energética, agenda climática, desenvolvimento sustentável”.
“Estes são temas que são interessantes para os dois lados do Atlântico”, considerou.
Sobre os países africanos de língua portuguesa, o responsável brasileiro considerou-os “uma porta natural, ampla e sempre aberta”.
Muitas das parcerias com países africanos começaram por Angola e, em pouco menor medida, Moçambique. “O mercado angolano era a primeira parada de várias empresas”, recordou, lembrando que o país alberga a maior comunidade de brasileiros no continente, cerca de 27 mil. “Isso espalhou-se e outras portas abriram-se”, concluiu.
De acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), em 2023, as exportações brasileiras para África bateram um recorde histórico, tendo chegado a 12,07 mil milhões de euros.
O Brasil investiu quase 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros) em Angola nas duas últimas décadas e promoveu mais de 75 projectos de cooperação.
Rafael Vidal, embaixador do Brasil em Angola, foca a construção conjunta e “irmandade” entre os dois países, ambos ex-colónias portuguesas, e a parceria diplomática “muito intensa” desde a independência de Angola, em 1975, que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer.
O Brasil tem uma parceria estratégica com Angola – a segunda em África, além da África do Sul – e foi o país que mais recebeu fundos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) num total de 3,5 mil milhões de dólares (3,22 mil milhões de euros), já reembolsados, “para ajudar na reconstrução de Angola”, após o final da guerra civil, em 2002.
“As grandes empresas de engenharia e construção vieram, instalaram-se e muitas seguem por cá, investiram, essas obras são visíveis”, disse o diplomata, salientando a importância da diplomacia presidencial retomada no terceiro mandato de Lula da Silva, que escolheu Angola para a sua primeira visita.
“O Presidente Lula desde o seu primeiro mandato sempre teve essa actuação importante, sobretudo nas nossas parcerias mais importantes no eixo sul-sul”, notou Rafael Vidal, acrescentando que “todas as parcerias internacionais são bem-vindas”.
“Não estamos em Angola para deslocar ou alienar outros parceiros, não entramos nessa corrida (…). Acreditamos no princípio da cooperação à medida do Estado que recebe a cooperação e no princípio da responsabilidade internacional, não nos desenvolvemos se os nossos vizinhos não se desenvolverem”, declarou o embaixador, reforçando: “o Brasil não está aqui porque outros países estão, estaria aqui mesmo se nenhum deles estivesse”.
Rafael Vidal adiantou que o Brasil já estabeleceu mais de 75 projectos de cooperação e já investiu mais de 20 mil milhões de dólares (18,4 mil milhões de euros) em Angola em duas décadas.
“Temos a maior comunidade brasileira de África, uma comunidade empresarial, dinâmica, somos 27 mil brasileiros”, realçou.
Também o nível de comércio regressou aos níveis pré-pandemia, atingindo cerca de 1,5 mil milhões de dólares (1,38 mil milhões de euros), com uma balança comercial equilibrada entre 2022 e 2023.
“Angola exporta hoje muito mais petróleo, por exemplo”, salientou o embaixador brasileiro, destacando o “momento muito especial” da relação entre os dois países graças à retoma da diplomacia presidencial de Lula da Silva.
Como frutos dessa diplomacia, apontou realizações concretizadas recentemente, como o primeiro congresso do banco de leite humano, “com base na experiência angolana” e a primeira participação de startups brasileiras na Angola Startup Summit.